quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Comunidades Sustentáveis

Por Rafael Grassi

“Sente-se urgência de um novo ethos civilizacional que nos permitirá dar um salto de qualidade na direção de formas mais cooperativas de convivência, de uma renovada veneração pelo Mistério que perpassa e que sustenta o processo evolutivo.”
Leonardo Boff


Ao mesmo tempo em que cresce esta globalização que exclui tudo e a todos, há um promissor caminho a partir das comunidades sustentáveis. Elas são espaços de convivências onde uma comunidade de pessoas moram e trabalham sem agredir o meio ambiente em que vivem, residem em plena harmonia com a natureza, tudo é respeitado, são profundamente benéficas para aqueles que nela habitam e também fazem um papel ímpar para o Planeta, são co-administradas por todos que nela habitam e circulam, ou seja, há pessoas que visitam as comunidades querendo entender como essas pessoas vivem, como se alimentam, como trabalham, existe uma interligação dentro da comunidade em tudo o que é feito e em como é feito.
A atitude de cada pessoa dentro de uma comunidade sustentável depende de todas, assim como todos dependem de uma só pessoa, a reciprocidade se faz mais do que presente, é um valor a ser seguido por aqueles que há habitam e que vivem em plena harmonia com o Todo.
Nas comunidades sustentáveis tudo é reaproveitado, tudo é reinventado. A inovação e a compreensão pelo outro é necessidade para a sobrevivência da comunidade, nada se perde, existe uma co-doação. As aves como galinhas e patos são usadas para alimento, dão seus ovos para o mesmo fim e também para procriação. Os estercos são adubos para plantas comestíveis e ornamentais, que quando chegarem em um tamanho determinado serão colhidas para a alimentação e comercio. Os animais bovinos servem para o corte de carne e de seu leite também se fazem derivados.
Pressuponho que as comunidades sustentáveis são o presente-futuro do mundo, suas práticas fundamentadas na cooperação, na sustentabilidade, na fraternidade e no amor para com o Planeta e seus seres vivos estão cada vez em números maiores não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo. Por serem cooperativas, elas abrem espaços para visitantes que querem conhecê-las, entender como funcionam as hortas ecológicas, quem planta o que e como plantam sem agredir o meio ambiente, as hortaliças que são plantadas dentro da comunidade, são dentro da própria consumida, além de poderem ser comercializadas, o preparo das refeições sem agrotóxico é uma prática que oportuniza a qualidade de vida, enfim enquanto algumas pessoas caminham pelas mesmas trilhas e pelos mesmos lugares que os trouxeram e que os levam em passos sempre minúsculos para um mesmo ponto, as comunidades ao contrário voam, sentem prazer em voar, sentem necessidade de voar. Georgia O’Keeffe traduz com muita sabedoria e simplicidade o amor por este vôo.

“O que se vê lá de cima é tão simples e belo que não posso deixar de sentir que maravilhoso para a espécie humana – a libertaria de tanta mesquinharia e pequenez, se mais pessoas voassem”.

Talvez daqui um dia, um ano, dez anos, cem anos, mil anos, dez mil anos, cem mil anos, não sei quando mais pessoas poderão também voar, e quando voarem, irão se sentir como pássaros em busca de um horizonte que não tem fim, voarão em plena luz do dia e irão ao mesmo tempo se deparar com estrelas cadentes riscando o seu-nosso-céu-coração, farão vários pedidos e terão como testemunha a lua cheia, vai parecer piração, mas na verdade quando o matemático e filósofo Galileu Galilei (1564-1642) defendeu a partir da ciência que a Terra gira ao redor do Sol, foi condenado e processado pela Inquisição. Nesta época também parecia piração.

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