quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A agricultura e um pouco mais

Por Rafael Grassi

“Leite de soja é uma idéia fácil de assimilar devido ao mito de que leite de vaca é um alimento bom para humanos. Queijo de soja é uma idéia fácil de assimilar devido ao mito de que queijo é um alimento bom para humanos. Carne de soja é uma idéia fácil de assimilar devido ao mito de que carne é um alimento bom para humanos. Quando deixam de consumir leite, queijo e carne, muitos humanos ficam felizes porque podem substituí-los por leite, queijo e carne de um novo mito: a soja”.
Sonia Hirsch
Pássaros que cantam há muito tempo o mesmo canto. Flores até hoje nunca vistas, peixes coloridos, sombras de árvores, poços naturais, cascatas sem palavras e de sons diversos, mas com grande comunicação para os mágicos-amantes, poesias sendo inspiradas com tudo isto e muito mais. Em um período muito curto, muitas riquezas podem sumir com a prática da agricultura irresponsável, insustentável e desumana, que não se preocupa com o meio e os seus seres vivos.
O cerrado tinha 25% de sua área original no território brasileiro. Localizado principalmente nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Minas Gerais e Goiás. Hoje restam apenas poucas manchas verdes em fotos tiradas por satélites. O cerrado é um exemplo concreto da falta de capital social inserido por pessoas que não compreendem suas belezas e riquezas naturais. Lindas cachoeiras, fauna e flora de beleza ímpar e uma cultura que está se perdendo com os nativos do cerrado.
O pequeno produtor, conhecedor do clima onde mora, sabe que horas vai chover só porque tal pássaro voou baixo, também sabe que amanhã ou depois de amanhã chove, porque as nuvens estão com tal formato. Enfim, são riquezas que estão sendo arrancadas do homem do campo com muita falta de educação e desamor por uma prática inaceitável que é chamada por alguns de PROGRESSO. Que PROGRESSO é este que inibe os valores humanos, valores essenciais para a sobrevivência e a não extinção da espécie, que degrada horrivelmente a Casa onde moramos? As matas nativas, muitas delas frutíferas, estão sendo derrubadas por moto-serras e também queimadas sem o mínimo de fiscalização e punição por órgãos competentes. Além da prática da caça esportiva, que de esporte não tem nada, é infundada, insustentável e não promove a qualidade de vida. A prova disto é o cerrado estar fazendo parte dos Hot Spot[1]. Essas áreas degradadas estão dando lugares para gigantescas plantações de SOJA, e na verdade, o que se fala da soja em muitos meios de comunicação, é que podemos fazer “milagres”, sejam a carne de soja, leite de soja, óleo de soja, etc. E o que não se fala são de seus malefícios para o ser humano, podendo causar dores de cabeça, fibromialgia, câncer de fígado e câncer de pâncreas.
Porque não se trabalhar com a agricultura ecológica? Mais saudável, porque não utiliza agrotóxicos e nem fertilizantes sintéticos. Torna-se mais confiante para quem maneja e para quem faz dela uma benção sagrada colocada na mesa.
Infelizmente em alguns lugares onde a soja é plantada hoje, haviam sonhos. Sonho de ser gente, pessoa, de ser “Ser Humano”, um ser saudável que se maravilhava com o cheiro da terra quando chove, que se envolve junto com os pássaros e canta seus sons. Os seus banhos eram tomados em rios cristalinos e os seus descansos eram embalados pela brisa, mas infelizmente os mandantes das queimadas e dos cortes das árvores não estudaram o suficiente e não se sensibilizam para compreender que se pode trabalhar junto com as árvores ao invés de optar pelo absurdo de queimá-las e/ou cortá-las.
Muitas árvores frutíferas são de grande interesse econômico para diversos fins, podendo assim, o cerrado ser visto mundialmente como um pólo econômico sustentável, que gera trabalho para as comunidades locais. Ao contrário do que está acontecendo, com muitos agricultores de pequeno porte, que estão deixando suas raízes históricas e migrando para metrópoles em busca de emprego, aumentando assim, as periferias nas próprias.
Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), título VIII da ordem social. capítulo VI - do meio ambiente afirma que:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Sem mais comentários.
[1] Regiões tropicais do planeta com grande diversidade biológica e recordistas em devastação.

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