quarta-feira, 17 de setembro de 2008

COopeRAÇÃO-Planeta

Por Rafael Grassi

“Preserve esse sorriso, esse brilho, esse olhar
Preserve o que eu digo, pois não falo por falar
Preserve esse abraço, esse abraço carinhoso
Do jeito que eu acho, pode ser maravilhoso
Preserve tudo isso, tudo isso e mais um pouco
E também tudo aquilo, que matar esse sufuco
Preserve esse aperto de mão meu amigo meu irmão
E se um irmão por mim perguntar, diga que eu vou estar
Pelo céu ou pelo mar
Vou por aí a procurar
Pelo céu ou pelo mar
Vou por aí a te encontrar
Preserve nossos rios, nosso verde nosso ar
E também tudo aquilo que tiver que preservar
Preserve o que é mato nesse mundo grandioso
Pois muito em breve eu acho, poderá ser valioso
Conserve tudo, bicho, todo reino animal
Só não conserve o lixo, pátria multinacional
Preserve esse aperto de mão meu amigo meu irmão
E se um irmão por mim perguntar, diga que eu vou estar...”

(Banda ULTRAMEN – Música PRESERVE)



Atualmente em nossa sociedade globalizada, consumista, excludente, competitiva e insustentável estamos vendo e vivendo a dor. As dores de nossos cor-ações in-sensíveis pelo que estamos fazendo e nos aprimorando cada vez mais e mais com nossa eco, que provem do oikos, e nunca esquecendo-se que significa casa, a nossa casa, enfim nosso coração. Estamos mais do que graduados, estamos pós-graduados em descaso, falta de amor, rivalidade, competição, desconfiança e solidão para com o Planeta Terra, enfim nosso capital social está sendo negado por nós mesmos, nos enxergamos separados do Planeta sem antes no mínimo termos casado com Ele.
A Casa sofre, o Planeta Terra sofre, devido a intensas queimadas, o descaso de alguns governantes mundiais, e percebam que os próprios estão menores que as outras palavras, não é por acaso, pois suas atitudes são pequenas mesmo. Também contamos infelizmente com o acréscimo da inadvertência pelo corte ilegal de árvores centenárias, árvores frondosas que trazem consigo as histórias de nossos pais, avós... A matança de animais silvestres, de microorganismos, a biopirataria está bem aqui ou seria aí ao seu lado? E será que a biopirataria seria uma espécie de seqüestro sem fiança? Acredito que vale a pena pensar, mas por outro lado graças a Jah, não podemos nos esquecer que existem pessoas que nos seus atos e palavras há sorrisos e amor, se portam e se comportam de forma co-responsável, preocupadas e atenciosas no que se refere à cooperação no/do Planeta Terra.
A nossa Casa é fantástica, colorida, privilegiada, cheia de maravilhas infinitas, como um jardim.
Segundo Lutzenberger (1992, p. 14),

“Mesmo quando praticada em escala mínima, a jardinagem restabelece um certo elo entre o homem e a Natureza, abrindo-nos os olhos para seus mistérios”.

Pressuponho que a partir do amor eu posso dar início a um jardim. Parto do pressuposto que se eu tenho amor, eu amo alguma coisa, algo me fascina, me sinto atraído por, é um completo ato de do-ação e então um mundo de cooperação falará por si, é primavera, as flores dão o m-ar de sua graça, abelhas e beija-flores fazem o seu papel, são perfeitos no quesito amor, nos troncos das árvores, epífitas[1] sorriem com suas formas, flores e cores, só faltando falar estamos aqui, ou será que falam? Eu acredito que sim, e nós conseqüentemente também falamos-sorrimos, enfim (todos sorriem), chega o verão, e as árvores são mais que a sombra para o nosso descanso, são sonhos mágicos em redes sopradas pela brisa da manhã, no outono suas folhas caem, percorrendo assim também no inverno. Podemos afirmar que o Planeta coopera entre si? Ele sabe que cada hora é para realizar algum fato e o velho ditado à natureza é sábia se faz presente, ou a natureza é mãe, a natureza é pai, enfim, para mim a natureza é família. Que linda família podemos construir em um jardim, poderemos ousar e nos arrepiar de tanta beleza, sensibilidade e poesia. O jardim não precisa ser extenso, tem que ser verde, amarelo, azul, vermelho...O jardim relacionando com o que diz um grande amigo-irmão-especial e educador meu Jader Denicol do Amaral “na recreação não existe o errado”, acredito que no jardim também não exista o errado, o que existe é o reencontro como na re-creação.
O ato de cultivar uma flor em um vaso é a relação que em parte faço da citação acima “escala mínima”, do ambientalista José Lutzenberger. Tive eu a honra de conhecê-lo no Rincão Gaia, situado na Cidade de Pântano Grande, estado do Rio Grande do Sul e me maravilhar com suas falas, de ficar encantado e impressionado com sua inteligência, simplicidade e amor no que verbalizava. O mínimo, um vaso, apenas um vaso para alguns, em contra partida mais um para outros, percebam a importância dessas duas palavras “mais um”, se pensarmos quem sabe mais dois, três... Primeiro: dependendo do tamanho do vaso posso ousar no tamanho da planta e quantidade de terra e então podemos deixar a vontade o casal, após algum tempo surgirão microorganismos, como bactérias, fungos, etc. Segundo: atualmente na área de minha casa tenho vários vasos com bromélias, e um deles tem uma moradora muito especial, uma aranha, é fantástico perceber a nossa cooperação, muitas vezes inconsciente já outras não. Percebam a grandiosidade de ter em casa um vaso e se maravilhar com a diversidade que nossa co-ação-reação causa, quem sabe esse vaso estava em um desses “quartinhos” que se guarda o que não queremos usar no momento, então plantamos uma planta com carinho e terra preta, em breve poderemos ter uma moradora, essa planta pode florir, um beija-flor a encontrar-beijar e nós a se encantar.
O meu jardim, o teu jardim e o nosso jardim, (é lindo, tão lindo quanto...).

Jardim – espaços onde corações pulsam bem mais fortes,
Olhos percebem outros olhos,
Outras cores,
Cores além do arco-íris,
Onde as flores nascem, crescem, sonham, vivem e morrem,
Junto a outras flores,
Árvores frondosas que encontram outras árvores,
Que encontram nuvens,
Arranha-céus da mata,
Beija-flores beijam e se beijam envolvidos por sorrisos de crianças.

No jardim podemos ser cantores e fazer par a um sabiá, a um joão-de-barro, a um bem-te-vi..., No jardim podemos sim ser pássaros, e olhar o mundo de outro jeito quem sabe assim “otiej”, no jardim podemos ser poetas e ler o que as flores nos escrevem, e como nos escrevem, textos gigantescos, textos menores e às vezes apenas palavras e até mesmo letras. Basta sim, ser sensível e se oportunizar para captar o “A do Amor” que elas nos dizem.
E eu, bom, e nós somos parte fundamental na conservação, preservação e criação de um jardim. Seja o jardim da casa onde moramos, seja a Mata Atlântica ou a Amazônia onde também moramos, não importa o tamanho do nosso jardim, ou você acha que a Mata Atlântica ou a Amazônia não são também um jardim?
Ah! Não esqueça de no seu jardim plantar o seu coração, ele é o início de tudo, e que o jardim do seu-céu-coração possa encantar a primavera mais cedo.
Precisamos dar mais atenção para o nosso Lar, nos importarmos com Ele ou o perderemos. Para que não aconteça esta tristeza o que podemos fazer? Que alternativas temos para mudar-ousar-criar? Como colorir mais o mundo? Como desenvolver sorrisos em nós, já que em muitos momentos do dia-a-dia fica impossível de sorrir? Como sorrir vendo tanta tristeza, milhares de hectares sendo destruídos pelas mãos humanas, quais ações podemos aplicar? Que alternativas temos e quais podemos criar? Enfim o que podemos fazer?
A cooperação dos Seres Humanos para com Gaia é de fundamental importância para a sobrevivência dos próprios e da Casa. Nós não nascemos para viver isolados dos outros, precisamos intensamente do outro para a sobrevivência, somos parte dele, não somos mais ou menos importantes do que outras espécies, e sim tão importantes quanto, temos uma brilhante e fantástica função na rede da vida, assim como os pássaros também têm, a brisa, as árvores, os mares, os rios, as flores e os beija-flores. Não é porque o ser humano “pensa”, que ele é mais importante do que os outros seres, esta é uma cultura que nos foi imposta erroneamente com o passado histórico.
Os paradigmas que sobrevivem ainda no mundo, em sua maioria são insustentáveis na teoria e prática. São pobres, sem cores, gosto, inovação, violentos e sem encanto. Estão muito longe de serem um sábia cantando na primavera do Cereus.
[1] Plantas não parasitas, que estabelecem uma relação de inquilina com as árvores.

Um comentário:

Vinicius Rodrigues disse...

Jardins, espaços tão corriqueiros, cotidianos, porém, ao mesmo tempo tão completos.

Um abraço meu véio!
E parabéns!